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O TEMPO, O ESPAÇO E SUAS LEITURAS EM ARQUEOLOGIA

(artigo originalmente disponível no Boletim Digital de janeiro de 2021)

A conferência «O TEMPO, O ESPAÇO, OS OBJETOS E AS SUAS LEITURAS EM ARQUEOLOGIA», aberta a todos os docentes do Agrupamento, integra-se no projeto de articulação entre o Agrupamento e o Museu Nacional de Arqueologia (MNA). Constituiu-se num modo de sistematizar e clarificar os conhecimentos desenvolvidos com os estudantes na primeira etapa do projeto.  
Luís Raposo, uma voz inconfundível da Arqueologia do nosso país, relembra-nos conhecimentos que aprendemos há muito, mas que agora podemos entender com novas configurações; i.e.; dando-lhes outros sentidos. 
Fez-nos percorrer muitos anos de História, recordando-nos que o tempo não é linear, é fugidio, porque nos escapa, pela dificuldade em o controlar. 
Se não controlamos o tempo na sua linearidade, o espaço também pode ir do «infinitamente pequeno ao infinitamente grande», dependendo dos pontos de vista e das perspetivas com que olhamos para as realidades. Chamou-nos a atenção para a transdisciplinaridade das disciplinas que a Arqueologia necessita para resolver as «angústias» do tempo e do espaço e as problemáticas que se lhe depararam e continuam a deparar. 
Traz a esta equação os objetos que se podem configurar como «narrativas arqueológicas», salientando para o muito que sabemos sobre eles, e, simultaneamente, deixa  a perplexidade  do  tanto que se  pode ter perdido, por  apenas  termos acesso ao «registado» e pelo tanto  que pode ter ficado algures  em espaços perdidos…
Faz-nos lembrar os enigmas dos objetos de que as faces do tempo deixam porvir, avisando-nos de que, nesta equação, a contemporaneidade é primordial para dar a ver os objetos que nos permitem «explorar configurações de espaço e tempo que não são mais do que formas de entender o passado» e que nos possibilitam ainda, na sua multidimensionalidade, deambular e recriar a própria História. 

Afinal, como Luís Raposo nos diz: (…) a História faz-se no presente e a perceção do passado é instrumental (…)», mas não poderemos «fugir» dela, das suas «caixas do tempo» e nas suas periodizações, porque, se não o fizermos não nos entenderemos. Elas são «cognoscentes», são formas de nos encontrarmos no presente para «nosso conforto e benefício». 

*Arqueólogo. Especialista em Pré-História Antiga (Paleolítico). Responsável do Sector de Investigação do Museu Nacional de Arqueologia (Diretor entre 1996 e 2012). Presidente do ICOM Europa (desde 2013; Presidente do ICOM Portugal entre 2009 e 2012). Vice-Presidente da Direção Associação dos Arqueólogos Portugueses (desde 2015).