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Diário de uma Viagem

(Originalmente publicado em julho 2023)

Como temos vindo a dar nota, a formação designada A(s) Cidade(s) como Laboratório(s) de Aprendizagem teve como principal objetivo criar circunstâncias a todos quantos a frequentaram, de perceber como as cidades e as «suas leituras» podem constituir modos de aprender e de estabelecer itinerários formativos, onde concorrem uma multiplicidade de conhecimentos.  
Desde o início fizemo-nos acompanhar d´As Cidade Invisíveis, de Italo Calvino (1923-1985), deixando-nos fascinar por cidades que, apesar da sua invisibilidade, nos eram dadas a ver através  de descrições  de arquiteturas não comprometidas com critérios utilitários, mas sim, por arquiteturas que despertam vontades. E, por força dessas vontades fomos levados a viajar por dentro de nós, pensando como poderíamos «virar as cidades do avesso». Essencialmente, como poderíamos levar as crianças e jovens a encontrar outras formas de ver estes lugares, criando-lhes o desejo de  viajar por «cidades-outras». 
 
Por vezes o quotidiano cansa. 

Cité des Sciences et de l'Industrie. (em cima). Diário de uma viagem (em baixo). Fotos de EM.
Obras integradas em exposições. Cité das Sciences et de l'Industrie. Fotos de EM.
De viagem em viagem e imbuídos pelo desejo de conhecer, fomos, conforme nos tínhamos prometido, até Paris. 
 
Pela manhã, os nossos olhares deixavam adivinhar a alegria por estarmos juntos. Juntos também pelo desejo de ver e conhecer «outras vistas». 
 
Os nossos primeiros olhares foram em direção à Cité des sciences et de l’industrie, onde recordámos as conversas sobre os cruzamentos disciplinares  e nos modos de os colocar ação junto de crianças e jovens. Deixámo-nos passear por entre exposições onde as temáticas apresentadas estabeleciam tantas pontes para as diversas artes.
Com uma genuína alegria, sentámo-nos debaixo de um céu estrelado, deixando-nos levar pela Realidade Aumentada (RA) entre o céu e a terra, até ao desconhecido. Num silêncio saboroso, as luzes da noite feitas de linhas e cores, inundaram os nossos pensamentos. O silêncio saboroso deixou-nos repousar o corpo.
 
Despreocupados com os itinerários,  afinal,  as viagens também se fazem de  «deixar andar», sem pressas, sem medo de perder os caminhos, nem dos enganos. Encontramo-nos na imensidão do Louvre, deixando flutuar os nossos olhos pela História  da pintura e pelas nossas  histórias. Numa sala recatada, críamos um espaço cénico para um quadro. E, essa é mesmo uma história que fica connosco. Divertida e ousada, simultaneamente.  
 
Já no fim de uma tarde, de um daqueles dias em que o sol ainda queimava, chegámos ao Centro Pompidou, onde carinhosamente víamos com interesse redobrado as assemblages, os museus portáteis, as instalações, aquilo que já tínhamos vivido,  agora, visto com outro significado. 
 
Subimos numa escada rolante,  debaixo de um calor escaldante, até chegarmos à exposição «Norman Foster», na qual Frédéric Migayrou, comissário da exposição, nos apresenta, uma retrospetiva da  obra de Norman Foster, numa extensão de 2200 metros quadrados, onde nos passeámos por entre esboços e desenhos, cadernos de trabalho, maquetas e “protótipos à escala múltipla, dando-nos uma visão geral de cerca de uma centena de projetos de arquitetura e design”.
 
Encontrámo-nos sem pressa, num largo, deixando a quietude do tempo inundar os nossos sentidos. Em redor, as  falas, os sons, as vidas  que iam passando e, nós, indiferentes, repousávamos ao sabor das memórias presentes.
 
De volta… 
 
E, agora, qual é o caminho?  «La porte de la peinture» ou «Porte de l’Enfer»?
 
Sim, estávamos no Museu D’ORSAY. 
Por entre tantas obras, que, em jeito de passeio,  fomos visitando. A única intenção era fruir, sem olhares escolásticos. Cada um de nós pôde ver sem amarras, seguir em várias direções, tomar os caminhos  que quisesse. 
Gostamos de fotografar, de perceber porque havia salas vazias e salas tão cheias de pessoas que se acotovelavam.  
A uns chamou mais atenção as cores, os traços, as composições; a outros, as figurações, as histórias, as narrações.  
Não nos foram indiferentes as obras que se assemelhavam às  «nossas» Assemblages, Instalações e às nossas conversas nas sessões,  entre novembro e junho. 
 
À saída então fixámo-nos  nas duas  obras: «La porte de la peinture» de Claude Rutault ou  «Porte de Enfer»? de Auguste Rodin, que podem ver nos links no final do texto.  
Num exercício  reflexivo, e sabendo que Claude Rutault se inspirou na obra  «Porte de l’Enfer» de Rodin, percorremos com os olhos as duas, ao mesmo tempo que pensámos: Como se podem reinventar as formas das ideias que as formam? 
 
Gostámos de caminhar pela cidade, visitar alguns dos  seus jardins e parques, olhar para os edifícios, de nos perdermos no metro, e de estudar as linhas que nos levaram de lugar em lugar.  
De volta, apercebemo-nos  de como valeu a pena. 
 
Docentes, da esquerda para a direita : Adélia Morais, Graça Morais, Lucília Carneiro, Rita Cardoso, Ana Margarida Ferreira, Isabel Rodrigues, Elisa Marques, Susana Castanheira e Fátima Veleda.