O Lugar às Ideias, por Rodolfo Aparício
(originalmente publicado no boletim de fevereiro, março e abril de 2024)
LIBERDADE E ARTE: O LEGADO DO 25 DE ABRIL
por
Rodolfo Aparício*
À medida que as cinzas dos tempos sombrios foram dissipadas pelos ventos da mudança, Portugal emergiu num novo horizonte, tingido pela efervescência da liberdade e da expressão. Como disse o escritor Miguel Torga, “É no seio da liberdade que se forja o destino dos homens”. Nas salas de aula, onde outrora ecoavam os suspiros do autoritarismo, agora ressoava uma sinfonia de esperança, tecida pelas mãos dos professores e pelos sonhos fervorosos dos jovens ávidos por conhecimento.
Entre as páginas dos livros e nas notas das canções, encontraram-se os reflexos de um país em renovação, onde a arte e a cultura se entrelaçaram para forjar um novo caminho. Como escreveu Fernando Pessoa, “A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo”. Escritores, como Pessoa, sussurraram verdades profundas, Saramago ergueu muralhas de palavras, desafiando as mentes e os corações a vislumbrarem para além das aparências, até porque “Talvez apenas na cegueira possamos finalmente ver a verdadeira essência da liberdade”, nas palavras de José Saramago.
Zeca Afonso, voz de resistência, incendiou os espíritos adormecidos com canções de protesto, enquanto artistas como Paula Rego deram voz aos silenciados, pintando os retratos da alma humana em toda a sua complexidade. Nas palavras de Paula Rego, “A arte pode ser subversiva e perigosa, mas também é a coisa mais importante que temos”.
E assim, nas salas de aula transformadas em palcos de criatividade e descoberta, floresceu uma nova geração. Alimentados pela arte e pela liberdade, estes jovens tornaram-se os arquitetos do amanhã, os construtores de uma sociedade mais inclusiva e vibrante.
A cultura pós-25 de abril deixou um legado indelével, transformando não apenas as escolas, mas também os sonhos e aspirações de uma sociedade em constante evolução.
Que essa chama de liberdade continue a arder, guiando-nos rumo a um futuro de igualdade, justiça e criatividade sem limites.
Lembremo-nos, pois, das palavras de José Luís Peixoto: “A liberdade é uma forma de estarmos vivos”.
*Professor do Departamento de Ciências Sociais e Humanas | Assessor da CAP