«RETRATOS FALADOS» E «RETRATOS PINTADOS»
«(…) Não se pode observar uma onda sem ter em conta os aspetos complexos que concorrem para a sua formação e aqueles outros, igualmente complexos, a que essa mesma onda dá lugar». (Ítalo Calvino, Palomar)
Ainda que seja um exercício difícil, continuamos a trabalhar as artes numa perspetiva transdisciplinar, onde as várias áreas se entrecruzam, procurando esbater as fronteiras dos saberes, tendo em conta os «aspetos complexos» que concorrem para estes modos de aprender, tal como a «formação de uma onda», como se pode ler em Palomar, de Ítalo Calvino.
É na sequência desta abordagem transdisciplinar, que assume o pensar o mundo e as suas complexidades, sustentando as diferenças e heterogeneidades dos saberes, que partilhamos o trabalho no âmbito do Programa PARTIS, em parceria com a Associação «Dança em Diálogos».
Empenhados em levar as crianças a criar «mundos-outros», deslocando a proximidade das suas vivências para outros «mundos possíveis», onde se estreitam ou se afastam pontos de vista e emergem perspetivas e aprendizagens múltiplas.
Neste contexto de aprendizagem, as crianças e os docentes têm oportunidade de ver vários Documentários, nas sessões de MO(VI)MENTOS DOC, com a orientação de António Limpo, nomeadamente: «Voyage of Time», de Terrence Malick; «Jane», de Brett Morgen; «Home», de Yann Arthus-Bertrand; «Koyaanisqatsi», de Godfrey Reggio.
Através destes filmes, conhecem novos locais, novas experiências e outros modos de pensar e viver. Desde a formação do universo, à relação dos humanos com a natureza, às maneiras de ver o mundo «de cima»; aos modos de viver dos seres humanos em diferentes espaços, à emersão no mundo das imagens «povoadas» com a ritmicidade da natureza, constituem momentos para alargar experiências e colecionar imagens, numa espécie de «museu imaginário», como nos ensinou Henri Malraux, em 1947.

Ainda inserido nestas sessões, a proximidade com a Cinemateca-Museu do Cinema, até aonde frequentemente as crianças vão, constitui esta abertura para novos caminhos e novas abordagens.

Foi a partir do documentário: TALKING HEADS, de Krzysztof Kieślowski, visionado na Cinemateca, que as crianças tiveram oportunidade de trabalhar o desenho, a pintura, o corpo, a voz, as imagens e de falar de si, num «retrato falado», já desenhado e pintado antes, com gestos de quem sabe que o retrato se pode fazer de muitas formas, com diversos materiais e em suportes diferenciados. O importante foi e é experimentar e deixar «voar a mão», num jogo entre o que se pensa e o que se faz.
Vejam alguns registos de “retratos falados” e de “retratos pintados”.
Vamos ouvir e ver….